JOÁ KING ERRANTE

Esse espaço foi criado por conta de minhas histórias e imaginação: textos fictícios, realistas, sobrenaturais, mentirosos, instigantes, expressivos e confusos como a minha própria mente. Na maior parte, vivências e observações. Vou criar personagens, para que não haja problema com nomes, vou criar nomes para que não haja problema com personagens. Sou viajante errante, uma pessoa amiga, que pretende mexer com a cabecinha de vocês por meio dessas histórias.

6.1.07


Conta a lenda que gato tem 7 vidas... depois dessa semana, acho que me restam apenas 2.

Devo já ter contado essas histórias, mas será necessário repeti-las, rapidamente, para não errar nas contas. Com 4 anos de idade, cai de uma ponte em Cachoeiras de Macacu, e fui salvo, das correntezas do rio, por uma senhora que me segurou pela japona (santa japona). Ainda, com os meus 4 anos, no tempo em que minha mãe pegava lotação, Um homem careca, com jeito de sulista (isso já deveria ser um sinal, não tomei atenção), com pretexto de ajudar minha mãe, então grávida do meu irmão, me pegou pelos braços e me levou. Pega desprevenida e não entendendo muito bem o que estava acontecendo, minha pobre mãe, com uma barriga atrapalhando o seu deslocamento, correu atrás do sujeito e me arrancou dos seus braços. O sujeito deu uma de desentendido e foi embora. Aí está o primeiro seqüestro relâmpago não registrado, ainda no tempo que o Rio era Guanabara.

Acho que essa história ficou no meu subconsciente, e sempre desconfiei que eu não era eu, ou, pelo menos, filho de meus pais. Depois, no início dos anos 70, foi noticiado o seqüestro do Carlinhos. Vocês lembram? Até hoje, ninguém sabe o que aconteceu. Por um bom tempo, eu achei que eu fosse o Carlinhos e que aqueles não eram os meus pais. Passei a investigar nas gavetas dos armários alguma pista da minha verdadeira origem e identidade. Não achei nada de concreto. E dei-me por satisfeito em não ser o Carlinhos, mas ser, realmente, o Cacá, alcunha que meu primo Philippe me dera.

Um pouco antes de entrar para a faculdade, ainda no tempo do colégio, uma vizinha de bairro ligou lá para casa, para saber se eu tinha morrido. Diante de uma questão crucial como essa, fiquei atordoado, será que morri e quem atende, agora, o telefone não sou eu? Percebi que a vizinha havia se confundido com os “Carlos”. Eu era Carlos Eduardo, o defunto era Carlos Alberto...credo! Eu o conhecia. Morreu num acidente de carro. Estudávamos no mesmo colégio. Contabilizando, tenho até agora, uma morte, uma suspeita e um atentado. Posso dizer que utilizei as minhas 3 vidas. Restam-me 4.

Há duas semanas atrás, voltei de viagem. Passei uns 10 dias viajando por Fortaleza e Florianópolis. No primeiro dia da viagem, ainda no aeroporto do Rio, tive um pressentimento: achei que o forno estava ligado. Liguei para a minha prima e pedi que ela fosse até a minha casa averiguar. Alarme falso. Depois de 10 dias, volto a casa, ela precisa de cuidados e atenção. Arrumo, dou carinho e passo a fazer as tarefas rotineiras de um dono-de-lar prendado. Coloco para ferver água para o mate. Joachim cansado de tanto andar durante um domingo ensolarado, mantem-se prostrado no chão. Venta... e o vento faz do papel toalha uma bandeirola que se põe a flanar por cima do fogão. Recolho, e o coloco em seu devido lugar. O telefone toca. É a minha amiga Márcia reclamando que não liguei para ela no seu aniversário. Conta que uma amiga em comum tinha ido numa palestra onde um vidente previa catástrofes para os anos seguintes: tsunami no Rio, Lula não será reeleito (isso não é exatamente uma catástrofe) e o Brasil não vai ganhar a Copa. Demos um prazo para o sujeito. Mediremos a sua capacidade de acerto pelas duas últimas previsões, a partir daí sim, começaremos a nos preocupar com a onda que alagará Ipanema. De repente escuto um estalar: tac! Um barulho. Joachim, ainda meio grogue, levanta e vai até a porta e olha para mim. Tem algo estranho, interpreto. Largo o telefone e saio correndo em direção a cozinha. Ela estava clara, apesar da noite se manifestar. Uma labareda de 1,70m, que vinha da lata de lixo ao lado do fogão, me saudava. Fiquei estarrecido diante daquilo. O copo de liquidificador e torneira foi o que me veio à cabeça. E joga água...mais água... mais, e nada. Em um breve momento, um segundo pensamento. Uma cena me veio a cabeça: abro a porta e saio gritando: FOGO! FOGO! Patético. Acho que nem o Joachim acreditaria, acharia que era brincadeira e pularia em cima de mim. Corta. Pensamento número 3: como em todos os filmes, vamos abafar com um cobertor. Mas não havia por perto nada parecido. O jeito foi afastar a licheira que já estava em chamas e ao lado do fogão, jogar mais água, o suficiente para alagar a cozinha. Fogo apagado. Tudo terminado. Essa tinha me deixado preocupado.Teria sido um alerta? Não devemos brincar com fogo.

Nos últimos dias tenho andado gripado, um pouco mole. Uma gripe que se arrasta há mais de 5 dias, nada que me deixe muito preocupado, apenas uma pequena dificuldade em respirar. De quinta para sexta, começo a sentir uma tontura, um certo enjôo. Comecei a ficar preocupado. Um mal estar. São duas da manhã, sozinho em casa. Eu e o Joachim. Não queria acabar como naquela história em que o sujeito é encontrado morto e já em putrefação ao lado do cão faminto. Comecei a arrumar a casa. Coloco a ração no pote para o Joachim e ligo para o meu plano de saúde para saber o hospital mais perto de casa que tenho direito. Hospital Santa Maria, em Laranjeiras. Nunca havia escutado. Pego um táxi e parto para lá. Era uma clínica e a porta de vidro fechada. Toco a campanhia, aguardo, e aparece um segurança sonolento. Entro. Não me parecia um hospital e muito menos uma emergência. Um outro rapaz, com mais sono ainda, pergunta meu nome, idade, endereço, cep ... CEP? Não sei lhe dizer, disse. Serve bairro. Diante de tanto descaso, comecei a ficar nervoso e revoltado. Perguntei: aqui tem emergência? Sim, foi a resposta com uma indicação para uma salinha. Fui para lá. Um outro rapaz me esperava. Perguntei: você é o médico? Não, sou o enfermeiro, foi a resposta. Mediu a minha pressão.: 16 por 12. Alta. Chega a médica e fala do meu estado. Teria que ficar em observação,faria uns exames e diante do resultado seria internado. Perguntei com uma certa indignação: aqui? Resposta mais do que óbvia da médica simpática: sim. Fiz um eletro e coletaram o meu sangue para o exame de enzimas. Explicaram-me que esse exame é feito para diagnosticar infarto. Passadas 4 horas, uma nova coleta seria feita e ao comparar com a primeira daria o resultado positivo ou negativo. Deram-me um comprimido para colocar embaixo da língua e depois mais 3 para mastigar. Colocaram-me deitado em uma cama estreita olhando para o teto. Já eram 4 horas da manhã.

No meu trajeto até o hospital, tinha mandado 3 torpedos. Um para a Ana Cristina, minha prima, outro para Suzana, e o terceiro para o Sérgio. Ninguém havia me respondido. Preocupado, recorro ao telefone, e acordo o meu amigo Sérgio. Passada uma hora, lá estava ele para me confortar e me alegrar. Nada como ter amigos. Contei tudo que havia acontecido e ele me falou que estava tudo sobre controle. Vendo que meu estado era tranqüilo, me contou que tinha sido naquele hospital que a Cássia Eller tinha morrido. Legal! Sendo médico, tinha uma articulação fácil com as enfermeiras, que além de mostrar os meus exames, mostrava também os exames do outro paciente da cama ao lado da minha. Coitado, esse estava mal. A cara da enfermeira expressava o estado do paciente. Ele estava pronto para encontrar a Cássia. Mediram novamente a pressão, normal: 12 por 8.

Não tendo por que ficar mais tempo ali, afinal a minha segunda coleta só seria feita as 8 da manhã, Sergio se despediu e foi trabalhar. Amigão! Fiquei aguardando a segunda coleta. O turno dos enfermeiros e médicos muda. A médica, que me atendeu de madrugada, volta para me dar uma satisfação. O mesmo discurso, dessa vez não me deixei levar pelo seu pessimismo e ignorei a internação. E surge uma mulata. Por que temos tanta enfermeira mulata? Começa arrumando as coisas. Puxa o carrinho para lá, empurra o suporte do soro para o outro lado, fecha o armário, procura a caneta... caneta? Pergunto se já não era a hora de fazer a segunda coleta, eram 8 horas da manhã. Ainda não veio o pedido, foi a resposta. Morrer eu não ia, por isso me mantive calmo. E onde estava a caneta? Liga para o ambulatório e pede uma caneta. Meu Deus, por que será que uma caneta faz tanta falta numa emergência? Surge o novo médico, pergunta pelo meu estado e me reconforta, dizendo que estava tudo certo com os meus exames e que só estava esperando o resultado da segunda coleta. Resultado? Disse que ainda não tinha sido feita a segunda coleta, e ele foi providenciar.

O meu vizinho, certamente, merecia mais atenção do que eu. Não me importava nada nada com isso, muito pelo contrário. Ele estava sendo monitorado com aquele aparelho que tem um visor com um gráfico. Olhei para o monitor e via apenas um risco contínuo. Ué? Isso não quer dizer que o coração não está batendo? Olhei para o cidadão e ele respirava. Falei com o enfermeiro e ele foi averiguar. O aparelho não estava funcionando direito. Mexeu e normalizou. De repente, o risco contínuo volta e apreensivo procuro o enfermeiro. Um sinal toca. Levo um susto. Era o meu celular.

Outra enfermeira chega, com uma caneta. Tinha que assinar o pedido para o exame. Assinei. Coletaram e fizeram um novo eletro. Mais meia hora, o médico chega. Disse que não precisava ficar esperando o resultado ali, não tinha necessidade e afinal os exames eram rotineiros, apenas por precaução. Eu estava bem. O resultado chegou e não havia sinal de infarto. Eu estava com plena saúde. Liberou-me e fui para casa.

Agora, restam-me apenas duas vidas. Não contabilizo as mortes e os lutos das paixões, caso contrário já estaria com a Cássia Eller cantando “Quando o segundo sol chegar. Para realinhar as órbitas dos planetas ....”. Cássia, ainda vai ter que me esperar mais um pouquinho.

Bjs e um bom dia

1 Comments:

At 12:53 PM, Anonymous Anônimo said...

o Joakin merece uma foto melhor. Muda aí, vai!

 

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