JOÁ KING ERRANTE

Esse espaço foi criado por conta de minhas histórias e imaginação: textos fictícios, realistas, sobrenaturais, mentirosos, instigantes, expressivos e confusos como a minha própria mente. Na maior parte, vivências e observações. Vou criar personagens, para que não haja problema com nomes, vou criar nomes para que não haja problema com personagens. Sou viajante errante, uma pessoa amiga, que pretende mexer com a cabecinha de vocês por meio dessas histórias.

10.1.07

A primeira vista, a segunda à prazo



Quem já não se enganou, tomando como avaliação a primeira impressão, ou a primeira imagem de uma pessoa. E como essa primeira imagem repercutiu em nossa vida, ou mesmo ficou guardada nas gavetas de nossa memória? Tenho, guardadas, e bem guardadas, nas gavetas que compõem o armário duplex da minha memória, algumas “primeiras vistas”. Lembro-me muito bem como e onde vi, pela primeira vez, algumas pessoas. A primeira vez que vi Ana Carla, Marlene, Márcia, Mário, Cristine, Ruth, Suzana,Gino, Camilla, Sérgio... são essas pessoas queridas (sim senhor... queridas sim), que estão mais presentes em minhas lembranças. Isso não significa que as outras pessoas amigas, das quais não tenho registro da primeira vista, não tenham importância em minha vida. Talvez seja mesmo ao contrário, dessas que me lembro, só me lembro por que de alguma forma, a primeira vista se tornou marcante e significativa e não a pessoa naquele momento, mas o acontecimento. A primeira vista não me daria o aval de com quem eu iria conviver a partir dali.

As pessoas amigas mais próximas já vão pensar, lá vem ele com aquela ladainha. Não se preocupem, que dessa vez não vou narrar o ponto mais frágil da minha vida, até agora, mas revelar coisas que pouco, ou que quase nunca, falei.

Essa semana, contei a história do modelo larapio. Quem é que desconfiaria de uma bonita estampa? Pois é, enganamo-nos muitas vezes. Já diz o meu amigo astrólogo, que os librianos se encantam pelo belo, pela imagem harmoniosa, pelo invólucro e deixam de lado o conteúdo. Até pode ser, meu caro senhor dos astros, mas, agora, procuro sempre o manual, a bula, e abro o pacote antes de aceitar qualquer prenda.

De todas as pessoas que citei acima, todas têm uma interessante história para ser contada, e digo, que a maioria, a primeira vista, não me revelou a pessoa que depois se mostrou para mim. Meus caros senhores....minhas caras senhoras, eis aqui algumas das minhas revelações.

Vou contar apenas 3.Três episódios. Aquele, que todos queriam que eu contasse, não se iludam, não contarei não. Ficará guardado, se é que guardo isso, ou escondo, de alguém.

Em ordem cronológica, vou contar o primeiro deles, o instante que cruzei com a Cristine. Todos devem saber que a Cristine foi minha companheira no Mestrado. Um Mestrado que passei no susto. É... susto. Susto porque passei sem ao menos ter estudado, isso não significa que eu seja um gênio ou a prova tenha sido muito fácil, nada disso. Não sou um gênio e nem a prova foi fácil. Acho que contei com a sorte e, a primeira impressão que dei aos professores, tenha-me favorecido. Susto dei na Cristine, ou pelo menos foi essa impressão que ela me causou ao cruzar comigo na saída da entrevista.

Para se ingressar no Mestrado, passamos por duas provas (específica e de línguas) e uma entrevista. Para mim, a entrevista tinha sido um fiasco. Tinha confiança plena na proposta do meu trabalho, controle absoluto, e estava preparado para qualquer tipo de pergunta. Mas os três professores da banca, resolveram fazer uma inquirição. Eu não tinha a menor noção do que estava acontecendo. Para resumir a história, tinham, à primeira vista, me confundindo com outro. Outro esse criado pela própria imaginação fértil desses peritos em analisar imagens. Gente, imagem não é tudo! Nem mesmo fatos não investigados são provas contundentes de alguma coisa. Procure sempre a segunda, terceira ou até quarta versão dos fatos.

Fui confundido e confuso me deixaram diante de perguntas capciosas de como, onde e quando eu conhecera o diretor do mestrado, que por uma pura fatalidade, no decorrer da minha inscrição, veio a se tornar o meu orientador. Da minha boca saía as mais puras e singelas respostas. Tão banais e verdadeiras, que achei que aos ouvidos dos inquiridores soariam como frágeis e mentirosas. A meu favor apenas um fato. A ausência, durante o processo de inscrição, de uma das professoras da mesa, que por motivo de viagem, não pode me dar auxílio na procura de um orientador. Estava deflagrado o conflito. Diante de meu reclame, e desconhecendo, dentre os avaliadores, a professora faltosa, um silêncio se anunciou, e encerrou-se assim a entrevista. Mas, antes mesmo que eu me retirasse, ouvi a observação de um deles: aí vai o nosso político.

Sai assim da sala, com uma cara assustada e assustando a pobre Cristine, que ao me perguntar como tinha sido a entrevista, respondi: acho que não fui bem. Puro engano, de todas as avaliações essa tinha sido a melhor. Ou será que as outras, sim, tinham sido uns fiascos? Coitada da Cristine, diante da minha pálida imagem, deixei-a preocupada, e com receio do que iria encontrar ao cruzar aquela porta. Mas, o que guardo da visão que tive foi: caramba, que mulher linda, esse Mestrado não só tem gente feia. Essa imagem, essa impressão, não posso dizer que não tenha permanecido em mim a respeito de minha amiga. Continua, e continuará, por que a beleza, a maior delas, é que emana de dentro e a que faz torná-la essa pessoa encantadora e invejada.

Passaram-se os dias, e dessa imagem assustada, preocupada e insegura da pobre Cristine, não tenho testemunho, apenas lembrança. Hoje, tenho a imagem de uma pessoa confiante e plena de felicidade. Costumo dizer que existe, sim, uma pessoa feliz, e essa pessoa se chama Cristine.

Vamos agora a segunda história. Essa é engraçada, confunde-se com a própria pessoa. Suzana, a nossa famosa “vou ali volto já”. Já foi e não voltou tantas vezes que nos confunde. Suzana é daquelas pessoas que à primeira vista, para todos, nos é familiar e, portanto, comigo não poderia ser diferente. A gente sempre tem a impressão que a conhece. Até mesmo o nosso querido Caetano Veloso já a confundiu. Certa vez, numa vernissage, ele chegou esbaforido e a cumprimentou com um caloroso abraço, como se a conhecesse de longa data. Alertado pela plena desconhecida da pequena confusão, o ilustre cantador improvisou uma desculpa: ah! Não a conheço? Mas me deu vontade de abraçá-la. É, ninguém quer se passar por tolo ou enganado.

A primeira vez que a vi, foi saindo do Departamento de Comunicação de uma grande empresa. Não se pode dizer que a nossa Suzana passa por nós desapercebida, né? Naquela época, ela ainda não tinha adotado, em seu guarda-roupa, as saias compridas e bordadas a la Capeto, mas já usava a bolsa transpassada tipo carteiro. Passou por mim, como quem quer esconder os olhos e o rosto por meio de seus longos cabelos, enrolando com o dedo indicador, médio e fura-bolo os cachos, e posicionando-os cuidadosamente sobre o lado do rosto, como que se criasse uma moldura capilar. Com passadas largas e ligeiramente seguras, a cabeça baixa, deixava, propositalmente, revelar um certo mistério.

Suzana foi uma das poucas que se revelou, em sua primeira imagem, a mulher que é. Imprecisa. Misteriosa...que nos confunde. Isso não reverte em sua personalidade, mas na impressão que temos de si. Não deixa de ser um charme um ponto ao seu favor. Como é bom ir descobrindo, descortinando, aos poucos essa mulher.

A minha vida é feita por mulheres. Sempre escutei isso. Mas devo a eles algumas passagens também. Mário... Gino... Sérgio. Epa! Na verdade, a primeira impressão é mais dele do que minha. Sérgio me viu como um porquinho (mas ainda assim, belo) sendo servido aos comensais. Não imaginem coisas,hein?

Teve um período em minha vida, exatamente 4 meses, que passei a andar de Classe A. Diz a minha prima que a Classe estava mais para D e F do que propriamente a primeira letra do alfabeto, pode ser, mas o fato é que me servia. Passados os 4 meses, voltei ao outro Mercedes, esse que serve a um número maior de pessoas (cá pra mim, creio que o outro também servia), o famoso 157. E foi assim que o Sérgio teve a sua primeira visão de mim. Sempre apressado e, totalmente, descompromissado. Sempre correndo e não querendo perder tempo com nada, entrei no ônibus 157, carregando uma pasta na mão, na outra uma revista ou livro, não me lembro, e na boca uma bela maçã. Sem tirá-la da boca, paguei a minha passagem, passei pela roleta e fui me sentar atrás do veículo. Lia e comia com sofreguidão. Do Sérgio me chamou a atenção o fato de sempre descermos no mesmo ponto, ele empinadinho, andar apressado e firme a minha frente, passava pelo passeio público, virava a esquina e num passe de mágica sumia da minha vista.

Reencontrei-o várias vezes. Mas uma das passagens, não a seguida da maçã, foi com outra amiga, Simone, que teimava em chamá-lo de Dr. Roberto. Dr. Roberto, eu repetia com estranheza a cada vez que me dirigia a ele. Ele,olhava-me com olhares sem graça. Mas já nos conhecíamos, ele como Sérgio. O doutor era surpresa, e Roberto nem se fala. Sérgio Roberto poderia ser uma hipótese remota, mas não descartada. Mas na verdade, era apenas uma confusão da Simone. O Roberto era puro devaneio.

E assim, foram as primeiras e duradouras impressões que tive e que carrego comigo, sem a chance remota de esquecê-las.

Para que as outras pessoas citadas e, nem todas, leitoras de meus escritos, não pensem que as citei levianamente, aí vão apenas algumas observações ligeiras da primeira vista.

Ana Carla, encontro de design no final dos anos 80, olhar tranqüilo e seguro.

Marlene, acho que de todas foi a impressão mais equivocada que tive. Chata e velha. Vestido pesado, cabelo emoldurando um rosto fino. Posso falar assim por que sei que temos essa liberdade.

Márcia, debruçada sobre uma prancheta, quieta e recatada. Mineira uaí!

Mário, dentro de seu marajó, acertei e errei no que vi.

Ruth, sentada no chão do corredor da faculdade, não parecia a bonita e simples pessoa que se revelou para mim. Minha afilhada.

Gino, através de uma vidraça, transparente, claro .... grande mentira.

Camilla, outubro de 2002, vi na veja, estampada em um anúncio, tomava café com o Gino na padaria...eta vida cruel.

Beijos e até la vista!
Comprem sempre a prazo, escutem a música de suas memórias... agora vem a lembrança do The Coors e a música “Alma Mater”de Rodrigo Leão, momentos vividos e nunca mais esquecidos.