JOÁ KING ERRANTE

Esse espaço foi criado por conta de minhas histórias e imaginação: textos fictícios, realistas, sobrenaturais, mentirosos, instigantes, expressivos e confusos como a minha própria mente. Na maior parte, vivências e observações. Vou criar personagens, para que não haja problema com nomes, vou criar nomes para que não haja problema com personagens. Sou viajante errante, uma pessoa amiga, que pretende mexer com a cabecinha de vocês por meio dessas histórias.

17.1.09

IMPRESSÕES SEM COMPLEXO : FASHION RIO 2009


Bom, é fato. Não sou um comentarista de Moda. Não sou um jornalista e nem, de perto, um fashionista (se existir essa palavra). Mas, ninguém pode negar que sou muito curioso e que esse mundinho me causa sentimentos paradoxais.

Assisti os dois desfiles dos doze novos talentos do Rio Moda Hype, convidado pelo Robert Guimarães. Desses doze, o único que eu conhecia era o Rique Groove, querido amigo e uma pessoa encantadora.

E, no último dia do evento, assisti ao último desfile, a coleção da Complexo B.

Fiquei muito surpreso e gratificado com o que vi nos desfiles dos novos talentos. Pure de Belo Horizonte, Stefania do Distrito Federal, Martins Paulo do Piauí e Rique Groove do Rio de Janeiro. Isso não quer dizer que não tenha gostado dos outros 8 estilistas, mas esses me surpreenderam.

Do Nordeste Brasileiro, veio o piauiense, Martins Paulo. Sua coleção, inspirada na obra de Cecília Meireles, já seria um alento, uma poesia em proposta. Mesmo desconhecendo a obra dessa poetisa, qualquer um seria capaz de descobri em sua coleção as cores e fantasia de seu texto. Um universo de vestidos em tecido xadrez colorido. O estilista desconstrói padrões estabelecidos e forma novas composições. Utiliza-se da sobreposição de peças para esquentar o corpo e deixar braços e pernas de fora.

No segundo dia, o esmero, o bom acabamento e a inovação, marcaram as duas primeiras coleções, Pure de Belo Horizonte e Stefania do Distrito Federal. A Pure trabalhou com inovação no tricô, criando novas tramas, texturas e volumes. E a brasiliense Stefania Rosa alcançou um nível espetacular na manufatura de suas peças. O primeiro modelo, que entrou na passarela, mostrava uma delicadeza e refino que impressionava. Uma mistura de vestido e casaco, como se uma saia plissada fosse desvelada, dando movimento e leveza a roupa de inverno. A estilista, veterana nas passarelas, está lançando pela editora SENAC um livro sobre alfaiataria, “Alfaiataria – Modelagem Plana Masculina”.


Para encerrar o desfile dos novos talentos, a alegria e juventude da coleção de Rique Groove. Apostando no lema “paixão pela vida”, sua coleção é colorida e divertida, rompendo com padrões clássicos, principalmente para moda masculina. Paletós estampados fazendo composição com camisas coloridas e bermudões, não obrigatoriamente na mesma padronagem. Gorros, golas em forma de pequenas bóias e acessórios transformavam os modelos em bonecos, brinquedos para o grande parque diversão que é a vida. Aliás, em sua coleção passada, com uma grande inspiração nos toy arts, já mostrava essa tendência. Dessa vez, abandonou as estamparias do “boneco caveirinha”, ícone da coleção de 2008, e substituiu por corações de todas as formas, cores e tamanhos... privilegiando a paixão.

O último desfile do Fashion Rio, da grife Complexo B, foi um espetáculo. Abrindo o desfile, como um mestre-cerimônia de uma gafieira do bairro boêmio da Lapa, o ator Milton Gonçalves. Com chapéu, tênis, paletó e calça brancos, contrastando com uma camisa estampada em vinho e preto, carregando um grande cordão dourado com a letra B pendurada, deu início ao desfile de malandros re-paginados e inovadores.

A ambientação da Lapa reforçava a personificação da malandragem dos modelos, que às vezes pareciam saídos de magazines antigos, com caps, paletós curtos e bermudões, tudo na mesma padronagem. Passariam, tranqüilamente, por burgueses da sociedade britânica dos anos 40. Para contrastar com esses modelos britânicos, a coleção apresentou os malandros cariocas, de micro shorts e camisões estampados abertos, calçando tênis branco e portando um chapéu preto; envoltos em correntes douradas pesadas sustentando grandes medalhões. Esse era um dos personagens que atravessaria a passarela. Mas a grande surpresa viria quase no final, um lindo “travesti” levantou o público ao se descobrir do pesado casaco e desvelar um vestido prata metalizado... alvoroço total.

Finalizando, mais uma vez a apresentação do Malandro Milton Gonçalves ao lado do estilista, Beto Neves, e do travesti. E, para a minha surpresa, após a saída dos três da passarela, um ataque relâmpago do público às caixas de isopor que permaneciam no meio da passarela, do início ao final do desfile. Elas, cheias de gelo, portavam dezenas de garrafas da cerveja devassa. Cada um saiu com uma garrafinha pelo menos.

Brinde ao estilo Carioca-Lapa de ser.

14.2.07

Muriqui e um barquinho de papel



Muriqui, para mim, sempre foi o nome de uma praia de Niterói, onde amigos meus do colégio tinham casa. Íamos de vez em quando para lá, nas férias. Nada demais. Mas a partir da semana passada, a minha percepção aumentou. Li no jornal e percebi que Muriqui é muito mais. Muriqui faz parte de uma história. A história de um libanês e sua família, a preservação da Mata Atlântica e seu jequitibá, e o percurso profissional de uma cientista americana. E além disso,para mim, agora, a cidade mineira de Caratinga, deixa de ser apenas a cidade do cartunista Ziraldo e da minha amiga Brígida, e passa a ser a cidade onde vivem os maiores primatas das Américas: os Muriquis.

Não vou contar toda a história, mas apenas um resumo rápido. O Sr. Feliciano Abdalla, filho de tropeiro libanês, resolveu se estabelecer na cidade mineira de Caratinga. Adquiriu terras. Uma fazenda: Fazenda Montes Claros. Quando comprou a fazenda, o antigo dono impôs uma condição: vendia apenas se o novo dono jurasse proteger a mata. Então, em uma parte dessa fazenda, cultivou café e, na outra, preservou a mata, embora muitos na cidade protestassem. Outro conselho reforçava o seu objetivo. Seu pai recomendara : “ ...cuidado com as matas, as madeiras, porque o fim disso será trágico.”

Os anos passaram, e chegaram os pesquisadores para estudar a mata atlântica e o seu habitat. Nela estavam os muriquis. Logo em seguida, por meio da divulgação de um vídeo “O Choro do Muriqui”, um emocionante apelo pela proteção da espécie, chega a Caratinga a pesquisadora Karen Strier, que fazia seu doutorado em Harvard. Ela vei estudar os Muriquis e mudou a tese estabelecida que todo primata é agressivo.

O estudo de mais de 20 anos ajudou a ciência a revelar um primata diferente: extremamente pacífico, seus grupos vivem sem hierarquia, sem dominância masculina, com explícitas demonstrações de afeto entre eles. O grupo dos Muriquis está crescendo e o limite da mata, agora, torna-se uma ameaça. O seu habitat é a Mata Atlântica. E novos questionamentos e desafios irão surgir.

Seu Feliciano morreu em 2000, aos 92 anos. Dias depois, o macaco mais velho apareceu morto, morre natural e, logo em seguida, o majestoso jequitibá caiu. Fim de uma parte da história que continua por intermédio da cientista e de do neto de Seu Feliciano.

Diante dessa história bonita de preservação, de um ideal conquistado, fica difícil exemplificar, em minha vida, algo parecido com valor semelhante. Fora as minhas memórias, lembranças más e boas, que conservo e preservo com requintes de exaltação, não tenho nada mais bonito a relatar sobre preservação. Acredito que existam várias modos de preservação. Fico, agora aqui, com três: a do meio ambiente, a da nossa memória emocional e a de nossa conduta. Todas buscando o mesmo fim: o nosso bem-estar.

Sempre tive o hábito de guardar. Guardo cartas. Guardava anúncios, imagens impressas, resto de papel, livros (nunca fui capaz de jogar nenhum fora). Mas, depois de um tempo, já não se justificava mais apenas guardar, apesar de sempre apropriar aos guardados uma função futura – para mim nada era inútil. Comecei a colecionar. Aí vieram os selos, os brinquedos, os gibis, LPs, os maços de cigarro (que nunca fumei), embalagens as mais diversas, revistas Veja e Bravo. As coleções foram crescendo e o espaço diminuindo. Um dia, de repente, resolvi, assim como tinha resolvido guardar, jogar tudo fora. Ficaram as cartas, os LPs (que não consigo vender), algumas Bravo, um carro de pilha (modelo jaguar vermelho, que abre o a mala do motor e gira feito uma enceradeira), alguns carrinhos de ferro, um gravador de rolo bege e verde bebê... Foi isso que preservei para a história. Exemplares remanescente dos anos 60 e 70, e que tem como maior valor a memória emocinal, de forma Proustiana, inerente a cada um.

Mas, um dia desses, parou em minhas mãos, um presente oferecido pela amiga Simone (se não colocar os créditos, sou um apátrida da nação amizade): um livro, “O mundo acabou”, de Alberto Villas. Nada de desgraça. Mas, uma coletânea de “guardados”, de um cotidiano que não existe mais, e que compõe o nosso imaginário. Hoje, constitui a nossa memória emocional. Estão ali copilados a nossa casa (a estante de e tijolo com prateleira de madeira, a enceradeira, as xícaras corolex, a colcha de chenile e os discos de vinil), o nosso quarda-roupa (o sapato vulcabrás, a galocha, a japona, o brim coringa, o kichute, mas faltou a camisa cacharrel), as nossas guloseimas (o pirulito de chocolate da Kibon, o biotônico Fontoura,o drops dulcora e a banana split nas lojas americanas), as nossas brincadeiras (o jogo de botão, o decalque,o “cadê o toucinho que estava aqui”, o mico preto, o bambolê, o forte apache, os soldadinhos do toddy, o “atirei o pau no gato” e a língua do P), as nossas tardes em frente a TV (o indizinho da tupi, o repórter esso, o vigilante rodoviário, o papai sabe tudo, o barquinho de papel, o topo gigio, roy rogers e faltaram muitos), a nossa fauna (o bicho-papão, os 3 porquinhos das Casas da Banha, o tucano da Varig, a gotinha e o tigre da Esso e o elefantinho da Shell), as coisas dos nossos pais (a glostora, a aqua velva, o rural willys, o simca chambord, o aero-willys, o vemaguet, mas faltou o carmanguia) e as coisas das nossas mães (a fotonovela e com ela o amigo da onça e o coppertone, o avon chama, a sloper, a pasta de dente kolynos, o lenço de papel e a enciclopédia conhecer).

Desses guardados, alguns são protagonistas e coadjuvantes de episódios, mais ou menos, pitorescos da minha vida. Na verdade, teria para cada um, uma pequena história para contar. Já contei a da Japona, que salvou a minha, então breve, infância. Dessa relação, tenho em minha lembrança duas coisas que remetem ao meu Tio Paizinho. O seu aero-willys e a loção pós barba aqua velva.

Para mim, o olfato era dos sentidos que mais me aguçava na presença desse meu Tio. Chamava os meus tios assim, por ouvir o meu primo chamá-los assim. E não pude, mesmo que quisesse, mudar ao longo da minha vida. Pois bem, o Paizinho sempre me despertou o olfato. Ele sempre estava perfumado com loção pós barba, o cabelo fixado e cuidadosamente penteado com um desses produtos tipo brilhantina. Eu sentia um frescor ao beijá-lo (isso daria um outro texto: as reminiscências do olfato). Mas, se por um lado o cheiro pós barba deixava-me leve, o cheiro e o calor de seu aero-willys marcaram as minhas manhãs de domingo. Tenho vaga lembrança, talvez pelas torturas que eram para mim. Enquanto a minha mãe e minha tia preparavam o almoço de domingo, meu pai e meu tio nos levavam para passear no aero-willys nas manhãs ensolaradas. Eram verdadeiras sessões de tortura. Eles nos enfiavam naquele carro grande e espaçoso. Sentia-me como se estivesse em uma sala forrada paredes de couro que ao sol do meio-dia nos aqueciam e deixavam o ar pesado e empestado. Para me arrasar de vez, no rádio, se não me engano, uma transmissão sofrível de algum programa esportivo português, “em direto” como eles diziam. Isso não só marcou de vez as minhas manhãs de domingo, como também enterrou para sempre qualquer intenção, por parte da ala masculina da família, de uma aproximação mais direta e objetiva com a paixão nacional (deles).

Mas não são só torturas as lembranças que me trouxeram esse livro. O barquinho de papel, por exemplo, para mim, é mais do que um brinquedo de infância. Ele me faz lembrar, diretamente, a exibição de uma novela na TV e que me transformou num pouco do que sou hoje, a “Pequena órfã”, com o Velho Gui, interpretado pelo excelente ator Dionísio Azevedo. A pequena órfã em questão, era uma menina loira e que quando se sentia desprotegida, pegava o seu barquinho de papel (acredito que feito pelo Velho Gui), sentava atrás do sofá e cantava uma música que lhe servia como um acalanto. Já desde menino, fui sendo doutrinado pela mídia, que as meninas loiras eram meigas, boas e que sofriam, e, por isso então, deveriam ter a minha maior atenção e proteção. Sempre fui mais chegado às loiras do que as morenas, acredito que seja pela referência a bondade, ao sofrimento e a santidade. Acho que Maria sempre foi meio aloirada. Em minha cabeça uma mistura de sagrado e profano.

Talvez, o maior dos modos de preservação que devemos nos ocupar hoje em dia, é o de preservar a boa conduta. Acredito que somos frutos do meio, e quando esse meio passa a mudar o nosso comportamento, é sinal que as coisas andam mal. Um dia, no trabalho, percebi que já não dava bom dia ou boa tarde com satisfação, saía meio tímido; oferecer um biscoito, bala ou qualquer coisa na hora do lanche não existia e atender o telefone do colega ao lado já não fazia mais parte de um comportamento gentil. Coisas tão corriqueiras do nosso cotidiano de trabalho estavam desaparecendo. Percebi que fazia isso de forma natural em outros lugares, mas não ali. Fiquei com medo, de começar a me transformar naquilo que nunca tinha sido e que não tinha vocação para ser. Aquilo começou a me incomodar e percebi que era hora de mudar. Mudar de lugar, para não me transformar naquilo que não era.

Isso é apenas um pequeno exemplo, mas se transferirmos isso para o nosso dia-dia-dia, nas ruas, lojas, restaurantes, em nossa casa...isso começará a ficar perigoso. A nossa conduta cordial desaparecerá, e no lugar dela, virá o individualismo, o egoísmo e a falta de atenção e gentileza com as pessoas ao nosso redor. Alguns dirão: “não tenho nada com isso. O telefone não é meu, porque devo atender?” Vivemos numa comunidade, e tudo ao nosso redor deve ser encarado como sendo de nossa responsabilidade, senão de sua origem, pelo menos, em sua manutenção. Ser gentil não custa. O que me custa é ver tanta indelicadeza, falta de educação e falta de compreensão entre as pessoas. Não quero crer que devemos chegar ao patrulhamento, mas não custa, de vez em quando, oferecer pílulas para os doentes desse mal.

Nessa minha viagem ao passado, por intermédio da preservação ao meio ambiente, aos bens materiais, as saudosas e boas reminiscências de nossas vidas, reflito. Devemos sim preservar as coisas que nos fazem bem e que nos mantêm vivos. Mas hoje, mais do que nunca, acho que a preservação deve-se dar a moldes mais modestos, pequenos em sua dimensão, mas grandes em repercussão. Devemos compor, como “soldados”, o exército de preservação dos bons modos, da tolerância, da compreensão, para que o mundo seja então, o que ainda não tive o prazer de conhecer em sua plenitude: mais humano e mais fácil de ser vivido.

4.2.07

Man, Uau! Sex Uau! – Prolegômeno


Essa semana chegou aos meus ouvidos, e olhos, algumas frases interessantes sobre a sexualidade. Sexualidade masculina e feminina... gostaria de compartilhar com vocês, caros amigos e amigas.

Segundo uma Teenager:

“Vestibular é como sexo, não importa a posição (lista de classificação) o negócio é estar lá dentro.”

Botão e painel

O filme sobre o novo comportamento sexual da carioca, que Euclides Marinho está finalizando, tem como possível título “Sexo oral” e o subtítulo “Por que o homem é um botão e a mulher é um painel de controle”. A frase foi retirada do depoimento de uma das entrevistadas. Resume a simplicidade do mecanismo sexual do homem (o botão da ereção que deflagra tudo) e a complexidade do painel feminino, com suas luzinhas sinalizando carências e desejos em todas as direções.

Ratificando o texto acima, da objetividade masculina e complexidade feminina, Jabor, nessas duas últimas semanas, vem discorrendo sobre o sexo solitário (ou solidário?), segue o texto: "A mulher de borracha é uma metáfora analógica; já o vibrador é uma metonímia digital - a parte pelo todo. A mulher de borracha nos angustia com sua presença incômoda, ela nos inquieta, mesmo esvaziada no fundo do armário, como uma ocultação de cadáver. O pênis digital, não: ele tem vida própria, não tem inconsciente, não tem desejos e manias."

Essas vieram de Portugal:

As leis mais loucas do mundo No Líbano, os homens podem, legalmente, ter relações sexuais com animais, mas tem que ser fêmeas. Relações sexuais com machos é punível com a morte (Paneleirices é que não ! )

No Bahrain, um médico pode, legalmente, examinar a genitália feminina mas, para ele, é proibido olhar directamente para ela, durante o exame. Pode, apenas, olhar através de um espelho ... ( grandes artistas... )

Os muçulmanos não podem olhar os genitais de um cadáver. Isto também se aplica aos funcionários da funerária. Os órgãos sexuais do defunto devem estar sempre cobertos por um tijolo ou por um pedaço de madeira ( um tijoooolo, carago ! )

A penalidade para a masturbação, na Indonésia, é a decapitação (PORRA !)

Há homens em Guam cujo emprego em tempo integral é viajar pelo país e desflorar virgens, as quais pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez. Razão: Pelas leis de Guam, é proibido a virgens casarem (onde é que fica o Guam ??? )

Em Hong Kong, uma mulher traída pode, legalmente, matar o marido adúltero, mas deve fazê-lo apenas com as mãos. Em contrapartida, a amante pode ser morta de qualquer outra maneira...

Em Cali, na Colômbia, uma mulher só pode ter relações com o marido e, a primeira vez que isso ocorre, a mãe deve estar no quarto para testemunhar o acto (já não bastava a chatice de ter que gramar uma sogra , ainda tem de ir mandar palpites naquele momento - como se come a filha !... ).

2.2.07

Dê Graças a Teresa

A vida de solteiro, também, tem a sua dose de casado. Não se pode fugir das responsabilidades domésticas, por menor que sejam.

Quem já não teve uma história, ou um problema, para contar sobre essas personagens, atire o primeiro pano de prato. Haja visto o programa de TV, “Diarista”, protagonizado por Claudia Rodrigues como Marinete e muito bem coadjuvado por Dira Paes como Solineuza, ou o longa “Domésticas”, com as personagens: Quitéria (aliás, é a cara da minha primeira diarista), Roxane, Raimunda, Cida e Créo. Eu, por menos ainda, tenho duas pra contar, uma de cada uma. Uma de Graça e outra de Teresa.

Graça vem primeiro. Ela era diarista da minha mãe e foi trabalhar lá em casa. Sempre muito dedicada com o filho da Dona Augusta, fazia o seu serviço de modo simples e humilde, por vezes, quebrando alguma coisa sem me contar, até que um dia, por conta de um problema de saúde, parou de trabalhar.

Nessa época, dividia um apartamento com um amigo. Cada um tinha as suas despesas: supermercado e telefone, fora as contas em comum: aluguel, condomínio, luz e gás. Um dia, esse meu amigo venho contar-me que estava achando estranho a sua conta de telefone, o valor estava alto. Passou um mês, e a conta novamente apresentava um valor alto e com números de celulares desconhecidos. A primeira providência foi colocar um cadeado e depois falar com a Graça.

A Graça – apesar de sermos dois no apartamento – sempre reportava-se a mim. Era eu que a recebia quando chegava pela manhã e que lhe pagava. Talvez, por isso, tinha por mim, consideração extrema. Sempre quando eu ia fazer qualquer reclamação ou observação, fazia sempre com muito cuidado. Mas parece que o cuidado era desnecessário. As diaristas e empregadas domésticas parecem ter uma conduta “muito particular, um mundo próprio, eu diria, onde suas leis, por mais ingênuas e desinteressadas de qualquer vantagem, nos são sempre muito inusitadas.

Bom, nesse dia fui, com muito cuidado, coloquei a situação de forma a não constrangê-la. Mencionei o fato da seguinte maneira: disse-lhe que havíamos observado um aumento na conta telefônica e que achava estranho. Muito tranqüila e resignada, tentando justificar o motivo do uso, explicou a situação de emergência que havia ocorrido. Sua filha estava no hospital e precisava falar com ela ao telefone (uma ligação pelo celular durante meia hora). Mas, imediatamente, de forma a tranqüilizar-me, como se fosse revelar-me um segredo, aproximou-se e disse: “mas fique tranquilo, não usei o seu não, usei o do outro, tá?” Ahh! Tá bom! Como um cão fiel, tentou me poupar, colocando no outro a sua despesa.

Teresa, chegou lá em casa, por indicação de uma amiga pernambucana que trabalha comigo. Nessa época, já tinha me mudado e morava sozinho, agora só na companhia de Joachim. O meu chow-chow. No início, trocava sempre o seu nome, chamava de Graça. Ela não se importava e nem me corrigia


Começou muito bem, fazendo gelatina sem eu pedir, mas bastou elogiar que na semana seguinte não havia mais gelatina na geladeira. Nunca observei nada quebrado, mas fora de lugar, sim. No dia que ela ia, assim que eu chegava em casa, tinha o trabalho de colocar as coisas no lugar. Não adiantava falar como deveria ser feito, corria o risco das coisas não serem limpas. Fiz uma vez uma observação com relação às roupas que ela passava, pedi que não colocasse mais de uma calça no cabide, pois levava muito tempo procurando. Passaram duas semanas e perdi as calças novamente.

Um dia, reparei que ela substituíra o sabonete no box. Poxa, que capricho – pensei. Não comentei com medo de afugentar o capricho. Na semana seguinte, mais uma vez. O sabonete novinho, fresquinho, virgem. Comecei a pensar que os sabonetes eram vagabundos e que gastavam rápido, ou será que eu tomava muito banho? Na terceira semana, mais uma vez, mas dessa vez, ainda havia um resto de sabonete usado. Achei estranho.

Por fim, na quarta semana, um bilhete explicava tudo. No bilhete estava escrito, entre outras coisas, o seguinte : ‘... estavam faltando 2 embalagens de sabonete para eu conseguir uma sandália na promoção. Com 5 embalagens e mais 10 reais ganho uma sandália. Assinado Teresa”. Custou um pouco para cair a ficha, fui até o banheiro e, no box, ainda o sabonete da semana passada. Aí lembrei de procurar no armário, e encontrei, devidamente empilhadinhos, os dois sabonetes sem embalagens.

Nada é por capricho e tudo tem uma razão de ser.

29.1.07

Quem não tem o seu sassarico?


Sassaricando, composto por 89 marchinhas organizadas por temas, enaltecendo ainda mais as suas letras, é um musical delicioso. Com pouco texto, mas com um conjunto de músicas que contam uns 60 ou 70 anos da história do Rio de Janeiro e, principalmente, do seu Carnaval. Uma equipe de primeira que aproveita muito bem a nossa música... isso tudo a Bárbara já disse. Mas o que será que ela não disse?

O que ela não disse, e nem poderia dizer, sai guardado dentro de cada um. Antes mesmo de levantar para aplaudir o espetáculo, na hora que os cantores cantam a penúltima música, “Sassaricando”, o público esquece os problemas e se veste de alegria. Lembranças de histórias, lembranças da vida dos anos 50, onde as letras maliciosas – que hoje para nós soam como ingênuas – eram proibidas as meninas direitas de cantar.

Chiquinha Gonzaga deu o seu “ó abre alas” as marchinhas, em 1899, gênero que só foi criado nos anos 20. Quem, assim como eu, que já passou dos 40, ou mesmo a molecada dos 20, não conhece alguma marchinha? A leveza, alegria e irreverência dessas músicas nos levam a um período que não existe mais. Não estou falando do Carnaval de rua, mas do espírito alegre e ingênuo que as músicas tinham. Verdadeiras crônicas bem-humoradas de nossos dias.

Muitas das músicas estão no meu imaginário. “Cadê Zazá ?... Cadê Zazá ?... /Saiu dizendo, vou alí, e volto já, / Mas não voltou porque ? Porque será ?/ Cadê Zazá, Zazá, Zazá ?” ou “Linda pastora / Morena da cor de Madalena/ Tu não tens pena / De mim que vivo tonto com o teu olhar / Linda criança / Tu não me sais da lembrança / Meu coração não se cansa / De sempre e sempre te amar” e a poderosa “Eu fui as touradas em Madri /Para tim bum, bum, bum /Para tim bum, bum, bum /E quase não volto mais aqui /Para ver Peri beijar Ceci /Para tim bum, bum, bum /Para tim bum, bum, bum”. São maravilhosas.

O espetáculo guarda algumas surpresas, como o novo arranjo para “Alá-lá-ó”, interpretada pela Juliana Diniz, neta de Monarco. É muito engraçado. É o próprio espírito irreverente desse gênero musical. Assim como, marchinhas desconhecidas para mim:“Infelizmente” e “ Não sou Manoel”, por exemplo. Os arranjos de algumas músicas são novos, liberdade que esse gênero permite. Parabéns para o diretor musical e arranjador, Luis Filipe de Lima.

Os cantores, Pedro Paulo Malta e Alfredo Del-Penho, novos para mim, são uma grata surpresa. Interpretam na medida certa as marchinhas. Sabrina Korgut é uma excelente cantora e ainda demonstra os seus dotes de bailarina para cantar “ Lig, lig, lig, lê”. Não tenho o que falar de Soraya Ravenle. Impecável. Eduardo Dussek é uma estrela. Quando ele entra algo acontece. Ele enche o palco. Possui mais carisma e empatia do que todos, mas isso não o faz melhor... não mesmo.

O meu único senão, vai para o figurino. Não sei. Fiquei na dúvida se gostei ou não. Muito pano e luxo, para um gênero tão leve e pueril. Parece-me que quiseram vestir as marchinhas para uma festa de gala, mas elas estão mais para um baile do bola-preta. Não atrapalha, até dá um brilho, mas analisando mais profundamente, achei fora de contexto. O contra-ponto vai para o baú, esse sim merecia um cuidado especial. Cenográfico demais, deixando aparente as suas estruturas, um forrinho não era má idéia.

O que mais de especial esse musical desperta, são as senhorinhas de seus mais de 70 anos, acompanharem os cantores, fazendo um coro improvisado. Tá certo que me juntei ao coro também, isso não foi privilégio apenas delas. Não precisava pedir, elas acompanhavam sem pedir licença. As mais educadas esperavam o comando, a permissão, de um dos cantores para acompanhá-los, e, normalmente, vinha do Dussek.

É um espetáculo obrigatório. Um pedaço do nosso Rio de Janeiro, por vezes tão mal-tratado, que ainda possui a alegria de se viver.

20.1.07

ABCdário


Aqui, eu começo os textos da viagem que fiz em outubro. Para ficar um pouquinho diferente, escrevi de forma de ABCdário. Viajei por 30 dias pela Espanha e Portugal.

ACHAR. Achar qualquer coisa na Europa é muito difícil, principalmente EURO. Nem um cent! Um dia, estava precisando de uma moedinha para completar uma passagem de auto-carro (ônibus), evitando, assim, de usar uma nota de 20 ou 50. Nada! Não teve jeito. Para não dizer que nao achei nada, achei a entrada da boate (de uma outra pessoa), que dava direito a um drink. Procurei o dono da entrada e devolvi. O meio faz a pessoa, e mesmo que não fizesse, sou assim por naturaza. Outra coisa que achei, e que nao valeu de nada, foi um piruzinho de papel… nao servia para nada mesmo.

AMBROSIA é uma loja de produtos conventuais da idade média que visitei em Girona. Doces dos Deuses. Foi nessa loja que encontrei um dos poucos simpáticos espanhóis pela viagem. A loja dava o clima do lugar.

BAIRRO ALTO. Ao Bairro Alto fui muitas vezes, a noite e de dia. De dia não se tem muito o que fazer. Mas descobri algumas lojinhas muito interessantes por lá. Destaco duas. A primeira delas é dedicada a um tipo de fotografia com uma máquina especial, uma espécie de Polaroid com um recurso gráfico. É um pouco difundida pela Europa e tem lojas especializadas vendendo-as e, na altura, estavam fazendo um concurso entre seus proprietários. Devo ter perdido o papel com as referências da máquina e, agora, não sei informar o nome, sei que ficava na Rua da Atalaia. Foi lá, que pela primeira vez, tive contato com as publicações – sobre eventos, moda, agenda …sobre tudo – que são distribuídas gratuitamente em alguns bares, restaurantes e lojas. Escreverei delas mais adiante.

A segunda loja, também na Rua Atalaia, chamou-me atenção pelo desenho de seus personagens estampados nos mais diversos objetos (t-shirts, canecas, marcadores de livro, chaveiros, blocos etc). Coisas com história tem a proposta de promover um Portugal tradicional, com seus personagens mais famosos (Camões, Eça, Fernando Pessoa, Amália), outros nem tantos (Camilo Castelo Branco, Beatriz Costa, Almeida Garret), personagens do povo (galo de barcelos, alcoviteira, fidalgo, frade, enforcardo) e os pontos turísticos de forma jovem e divertida, criando, assim, interesse pelo passado de forma revigorada. Vale a pena saber mais da proposta dos seus responsáveis, acessem o site
www.coisascomhistoria.com . Segundo eles: Estamos no presente, a fabricar o futuro, com o exemplo do passado.

A noite, é outro história. As pequenas ruas do Bairro se abrem para a juventude bonita e cosmopolita de Portugal. Fiquei impressionado com a beleza daquele povo e me arrependi de não ter tirado mais fotos. Principalmente de uma bela arquiteta que já esteve a trabalhar aqui no Brasil. Passei por vários cafés, bares, boates e restaurantes. Alguns eu recordo o nome: ar puro (onde não se fuma), arroz doce, lei seca (
www.leisecabar.com)- entrem nesse site e escutem a música, é o bom brasil invadindo a Europa por Portugal - , mezcal, favela chique, janela d’atalaia, sétimo céu... Mas foi num bar com decoração a Jazz, que não recordo o nome, que os amigos Miguel e Mônica nos levaram. Sim... nos levaram, porque nesse dia tive a visita surpresa de outro amigo, Rogério. Fomos os 4 para o Bairro Alto, mais uma vez, tomar uma “caipirinha”. Lá encontramos uns amigos do casal que moram em Nova York, fazendo o mesmo.

Logo quando cheguei, Miguel, Mônica e Sara levaram-me para jantar no Bairro. Fomos a um restaurante bem típico, nada de decoração moderna. Gambas foi o meu prato. Mas o que ficou na minha memória degustativa foi o doce alentejano, Pão de Rala. No dia seguinte, sozinho na capital, voltei ao Bairro à noite, e fiquei na porta do Bar Portas Largas. Como o próprio nome diz, as portas são largas e da rua pode-se ficar assistindo o que estiver passando no telão. E, nessa noite, tive a companhia de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown e seus Tribalistas. Nessa noite não me senti só no Bairro Alto. Aliás, diga-se já, a música brasileira é muito escutada em Portugal, e Marisa monte é um nome conhecido em algumas cidades por onde passei ou por onde tive contato com seus moradores, como: Lisboa, Porto, Barcelona, Madrid, Paris e Viena.

BANHO. Tomar banho, para nós dos trópicos, é imprescindível. E não caiam na besteira de falar que os europeus não tomam banho. Eu tenho outra tese para o mau cheiro que às vezes assola as nossas narículas dentro do metro, auto-carro e mercados. Mas, banheiro e, principalmente, o banho são capítulos à parte nessa viagem.

Assim que cheguei no velho continente, depois de ter resolvido o meu problema da bela recepção na cidade alemã, Frankfurt, fui para o hotel indicado pela Varig para passar a noite que não tinha previsto. No banheiro do hotel deparei com um vaso sanitário limpo e moderno. Percebi que quando sentava, as perninhas ficavam balançando. Os meus pés não chegavam confortavelmente até o chão. Alemão é grande, né gente? Mas, em compensação, na banheira, quase que encostava a cabeça no teto. Por que será? Por que essa diferença de parâmetros entre as duas alturas do banheiro?? Será que na hora do banho o alemão reduz a sua altura? Sabe como é a tecnologia do velho (¿) continente ( esse computador tá maluco, adotou os parâmetros da escrita española, será que é conspiração?). A resposta vem logo. Entrei na banheira para tomar banho e me deparei com um dos problemas mais recorrentes da viagem. Já sabia do costume do povo europeu em tomar banho com ducha e sabonete líquido (você não encontra sabonete em barra, apenas nos hotéis). Isso para mim não seria problema. O misturador, também, já não era novidade. Em todos os banheiros que fui – escrevo TODOS -, o misturador era aquele com apenas uma “manivela” que ao girar para direta temos água fria, para esquerda água quente e para cima muita água. Um luxo! Tudo bem. Liguei a torneira e só saía água para banheira. E como não sou estrela de cinema e nem Rita Lee acostumada a tomar banho de espuma, procurei uma maneira de tornar a ducha um chuveiro. Chuveiro Baixo, deixa-se claro. O suporte para ducha já havia encontrado, mas como fazer a água sair pela ducha e não pela torneira da banheira? Para não ser pego desprevenido, com um jato de água fria nas costas, não coloquei a ducha no suporte, deixei-a onde estava, apoiada na torneira. Vi um pininho, bem em cima da torneira, tratei de apertá-lo e, mais do que de repente, a ducha tomou vida, num salto lançou-se ao ar como uma serpente Naja me atacando a cara. Com a pressão da água, a ducha tomou vida e me jogou ao chão da banheira. Por sorte não me machuquei. Lição número um: nunca fique muito perto do problema a ser resolvido, tome um certo distanciamento, assim a sua análise poderá ser mais abrangente e não correrá riscos.

Por todos os banheiros que passei alguns me chamaram atenção. No próprio hotel de Frankfurt, no banheiro do Lobby, para cada mictório um cinzeiro. Isso mostra como o povo gosta de fumar. E no banheiro da rodoviária de Caldas da Rainha, cidade que parei a caminho de Óbidos (Portugal), não tinha vaso sanitário. Apenas um buraco e dois lugares para colocar os pezinhos. Isso deve ser para fortalecer as coxas do povo e deixar o bumbum como o dos (as) brasileiros (as), empinadinho.


BARCELONETA. De um polo ao outro, passamos, agora, para Barcelona, Barceloneta. Barceloneta, pelo que entendi, é um bairro com umas dezenas de quarteirões todos rigorosamente ordenados. Próximo a praia, onde temos um local com mesmo nome, não seria nada demais, se não estivesse, no dia em que passei por ela, toda enfeitada.

Era domingo, dia 1 de outubro, o povo de Barcelona estava extasiado com uma apresentação na praia da frota de aviões de caça de sua forças armadas. Os aviões rasgavam o céu e faziam um barulho que interrompia a tranquilidade que o céu e o mar nos proporcionaria. A extensão de toda a praia estava ocupada pelas pessoas olhando para o alto, parvos, admirando as manobras dos aviões.

Voltando a tranquilidade das ruas de Barceloneta, em cada uma delas, uma decoração diferente. Em cada uma, uma festa diferente. Enfeitaram as ruas, colocaram mesas e uma mesa central onde serviam as comidas, mais ao fundo um palco. Assim, eles comemoravam o dia de sua padroeira.

BARRIGA. Por incrível que pareça, os europeus não tem problema com a barriga. Seja homem ou mulher, a maioria tem a sua. Levemente proeminente, diga-se já. O alcaide de Madrid, por exemplo, proibiu que modelos demasiadamente magras desfilem em eventos de moda. E, em outra esfera, na França há subsídios para que as mulheres aumentem a barriga e, passado 9 meses, ajudem a gerar uma população mais jovem. Isso tem dado resultado, e o índice da taxa de fertilidade das francesas aumentou, é o que eles estão chamando de Baby Boom.

BICI. É assim, de forma reduzida, que chamam a bicicleta em Sevilha. Foi em Sevilha que andei de Bicicleta com Taciana e Giuliano. Foi uma sensação boa, estar andando pelas pequenas ruas e grandes avenidas de Sevilha. A tardinha até anoitecer, andei pelas ruelas do Bairro Santo Cruz com sua arquitetura típica, entrei pela Avenida Menédes Pelayo, e atravessei o Parque Maria Luisa e parando em frente a Praça de Espanha para admirar a noite… foi muito bom.

BONIC. Em Barcelona, fiquei hospedado no charmoso hotel Bonic, do amigo Fernando. Fernando foi um dos bons contatos que estabeleci antes da viagem. Fora ele, tive contato com a Sara em Lisboa, Pedro no Porto e Jack em Madrid. O Bonic, como já tinha dito, é a extensão de nossa casa. Simples e aconchegante, cuidadosamente decorado. Tem aspecto refrescante e iluminado. Não são mais do que 15 quartos, todos distintos em sua decoração. Cores levemente cítricas dão a energia suficiente para restabelecermos a “gana” depois de um dia de muita andança. Era uma sensação maravilhosa quando chegava da rua e abria a porta do Bonic. O frescor e o aroma que o ambiente proporcionava era um bálsamo depois de um dia estafante.

O atencioso Fernando, junto com a Macarena, e a eventual ajuda do Richard, mantem o Bonic sempre um brinco. Logo cedo, tomava o meu café da manhã, com pão, queijo, presunto, iogurte, bolinho ou um croissant recheado com choclate, fruta (abacaxi ou melão), suco de laranja, café ou chá, ao som de música brasileira (Bebel Gilberto era a que mais tocava). Acessava a internet e depois ia para a rua. Nossa!! Era muito bom.

15.1.07

O Pequeno Grande Homem Triste

Se não me falha a memória, no ano passado, no começo do ano, escrevi um texto em que dizia que acordei me sentindo um Cary Grant. Inspiração pura. Não tenho mais esse texto, quem puder recuperá-lo para mim, eu agradeço. Aliás, recuperar foi o que mais marcou o meu fim de ano.

Todos sabem que sou movido a lembranças, memória e reminiscências. Segundo Platão, lembrança do que a alma contemplou em uma vida anterior, quando, ao lado dos deuses, tinha a visão direta das idéias. Bonito. Nesse fim de ano, fui recuperando algumas coisas e, sintomaticamente, perdendo outras, mas, logo em seguida, dando conta de seu paradeiro. Coisa estranha. Recuperei meus amigos Teresianos : André, Luiz Alberto, Ana Paula Barbosa, Claudia Belsito, Claudia Mendes, Andréa Ernesto, Isabela, Gisele, Adriana, Kátia Klein, Cristiane, Anete, Nyeta, Marcelo Henriques e, já no finalzinho, a menina Carinho, Márcia Menezes. Uma grande amiga da Faculdade, Cristina Behar, apareceu subitamente a caminho do chuveiro na praia. Jô Frazão mandou um email. Lídia estava feliz porque o gás estava funcionado no frio londrino. Parece que estava em sintonia com o passado, presentificando o meu futuro. Perdi um casaco, mas a Ana Carla achou, perdi documentos pela minha desorganização, mas a minha esperança deu cabo de encontrá-los, perdi o meu japa mala (terço indiano), no último dia do ano, mas o acaso me permitiu um novo encontro.

Ainda, no ímpeto de recuperar, recuperei uma coisinha que estava adormecida no meu coração, na minha alma, na minha existência: a confiança. A confiança no outro, no meu par, no meu semelhante. Ainda me sentindo ludibriado, me deixe enganar para ter esperanças e me sentir melhor.

Certa vez, num fim de semana, sai da sala de cinema me sentindo o próprio personagem. O filme era “Nem tudo é o que parece” (bem apropriado o título), o ator, Daniel Craig. Sai da sala como ele: imponente... destemido.

Essa manhã, acordei não me sentindo mais um Cary Grant. Fiz o spinning matinal (como isso é bom) e chegando em casa, tirei a camisa, me olhei no espelho e me senti bem. Até aquelas gordurinhas localizadas se reuniram num só volume tornando-se compactas duras e uniformes, formou uma armadura ... musculatura condensada. Disse: você está bem rapaz!

Botei uma calça azul que me cai bem, uma camisa verde água que combina com o azul escuro, um sapato preto, lavei o rosto, fiz a barba e moldurei o meu rosto com um ar misterioso de quem espreita todos atrás de uma lente escura. Saí de casa, estiquei o corpo (façam isso, as meninas também, estiquem o corpo o suficiente para que ele lhe dê mais um centímetro de altura e o suficiente para que a bunda não fique muito empinada). Arrumei a minha bolsa, coloquei no CDplayer Damien Rice, cantando aquela música cuja a versão está contagiando todos, e que chamo da melô do espelho. Escutei pela primeira vez no filme Closer. E, como um desses personagens de anúncio de cartão de crédito ou de carro, caminhei altivo, reto, impávido, impetuoso pela rua. Senti-me como um soldado urbano, fazendo revirar pescoços e derrubando adversários. Gerei cobiça, inveja e ciúmes. Rebati com desprezo. Com a cabeça imóvel, mas os olhos em permanente movimento, observava todos sem demonstrar a minha desconfiança. A boca cerrada, um risco, quebrada apenas com uma leve curvatura nos cantos, riso cínico e voluntarioso. Com um escudo invisível, abria o caminho através da horda urbana, um caminho imaginado, tornando a minha passagem livre e sem obstáculos. Os meus olhos ninguém via. O olho é a nossa alma, ele revela o que sentimos, o que somos e o que queremos. Ele pode ser o nosso calcanhar de Aquiles e, às vezes, uma arma fatal. Mas, hoje, eu tinha que protegê-los, os meus olhos me entregavam. Marejados... ceguinhos de choro. Eu era um pequeno grande homem triste e o caminho de uma lágrima me riscava o rosto.

Beijos a todos no coração